Tuesday, February 8, 2011

Guerra Peninsular - A presença militar francesa na região

Há 200 anos atrás, a sombra de Napoleão pairava sobre toda a Europa.

A França Imperial esmagava tudo e todos. O Exército Francês aliado ao Império Austro-Húngaro esmaga a oposição de italianos, espanhóis, holandeses, dinamarqueses, polacos e egípcios. Para vencer a Inglaterra Napoleão decretou o Bloqueio Continental, em Novembro de 1806, impondo que todos os países europeus fechassem os seus portos aos navios ingleses. Portugal viu-se entre a espada e a parede, se aderisse ao Bloqueio Continental teria como inimiga a Inglaterra, que dominando o Atlântico, impediria o nosso comércio com o Brasil, se pelo contrário não cumprisse o que pretendia Napoleão expunha-se às represálias dos Franceses aliados dos Espanhóis. Perante a hesitação portuguesa, Napoleão mandou evadir Portugal.


Embarque em 1807 da família real, rumo ao Brasil

A Napoleão apenas resistem Portugal, Grã-Bretanha, Suécia e Rússia.

Entre 1800 a 1815, a Europa transforma-se num gigantesco campo de batalha e Napoleão auto proclama-se Imperador.

A 19 de Novembro de 1807, os franceses invadem Portugal, comandados por Junot, com a cumplicidade dos espanhóis. Perante o ataque francês e a retirada da corte para o Brasil ficou à frente do Governo do País, uma Junta de Regência.

A 30 de Novembro de 1807 cai Lisboa.

Wellington organiza as forças anglo lusas e a 30 de Agosto de 1808 obriga Junot à rendição em Sintra.

Os Franceses regressam pela segunda vez a Portugal, em 1809, desta vez comandados por Soult. Chaves, Braga e o Porto foram pontos de passagem. Para a história fica a Tragédia da Ponte das Barcas, o Exército Francês disparou indiscriminadamente sobre a população que fugia de Vila Nova de Gaia para o Porto, tendo muitas mulheres e crianças caído para o Rio Douro e morrido afogados.

A Guerra Peninsular arrastava-se havia longos meses, com perdas inconvenientes consideráveis, e Napoleão ainda não conseguira o seu objectivo principal, a derrota do imperialismo britânico. Ao regressar a Paris, depois da campanha vitoriosa da Áustria, determinou resolver o problema de uma vez por todas, forçando os ingleses a retirar de Portugal. O Marechal André Massena foi nomeado comandante em chefe do Exército Francês. Na Primavera de 1810 regressa o exército napoleónico, com 3 corpos de exército e 65.000 homens, na 3ª incursão francesa em território nacional.

Massena, a 21 de Junho de 1810 põe cerco a Almeida e faz explodir o seu castelo. Caem Viseu e o Porto. Depois da Batalha do Buçaco ocorrida a 27 de Setembro de 1810, e apesar de as legiões francesas debaixo do comando do marechal André Masséna terem sido derrotadas, as tropas franceses continuam o seu avanço sobre a cidade de Lisboa.

Coimbra, quase deserta, foi invadida e saqueada em 1 de Outubro de 1810. Massena colocou na cidade uma guarnição e seguiu em direcção a Lisboa.

O Duque de Wellington que se encontrava ao comando das tropas portuguesas com prudência, foi recuando e praticando uma forma de limpeza de campo, envenenando poços e destruindo pontes. Foi deitando fogo às coisas que pudessem servir ao exército francês e que não pudesse ser transportado pelas populações, em fuga, até acabar por se encerrar e fortificar nas célebres e históricas Linhas de Torres, onde travou o avanço de Massena.

Nas Linhas de Torres, Massena acabou por ver insustentável a manutenção da sua posição dada a falta de recursos e abastecimentos do seu exército, acabando assim por retirar para o norte de Portugal onde não tinha sido posto em prática o devastador sistema de terra queimada usado por Wellington. Procurava aqui terras e campos com abastecimentos para o seu exército até à chegada dos reforços que esperava.

Começou a retirada a 4 de Março de 1811 e de 5 a 11 do mesmo mês reuniu o seu exército na localidade de Pombal, com excepção das tropas de Jean Louis Ébenezel Reynier e Louis Henri Loison (Maneta) que tomaram a direcção de Espinhal, do concelho de Penela para desta forma proteger o seu flanco e conseguir ao grosso do exército uma marcha mais desafogada.

25.000 Soldados franceses, depois da retirada das posições da Linha de Torres Vedras, aquartelaram no Espinhal, provocando o alvoroço em Pombal, Ansião, Penela, Soure e Condeixa-a-Nova. A maior parte dos habitantes do Espinhal fugira dos invasores, outros esconderam-se em grutas, mas nem todos sobreviveram. A fome, que ameaçava os franceses foi temporariamente vencida pela descoberta de cereais armazenados perto do Espinhal. 52 Mortos! Em Penela houve 188 assassínios e na Cumieira 48. A população sofreu perdas enormes de víveres, gado e bens móveis, os aldeões foram encontrados pelo exército anglo-luso esfomeados.

Os aliados que se encontravam nas Linhas de Torres saíram em perseguição dos fugitivos e deram inicio a uma perseguição que obrigou o inimigo a combater todos os dias e nem sempre em favoráveis condições.


Dadas as condições, as tropas francesas dirigiram-se à cidade de Coimbra onde Massena se tentou defender num desfiladeiro existente entre as localidades de Pombal e Redinha (12 de Março de 1811). Estas forças foram batidas, bem como outra que fora reconhecer o terreno para Coimbra e que encontrou a de acesso à cidade cortada. Dado o obstáculo, teve de desistir daquele caminho e viu-se obrigado a seguir o que lhe restava aberto entre o rio Mondego e o rio Zêzere pelas localidades de Miranda do Corvo e de Ponte de Mucela descendo por Mucela e Moura Morta, junto ao Rio Alva - antiga Estrada Real. Locais estes que embora difíceis e sem bons caminhos ofereciam-lhe no entanto boas posições para ir cobrindo durante a retirada.

Sabendo-o das condições do terreno Wellington mandou uma a divisão flanqueá-lo pela direita, o que obrigou Massena a abandonar Condeixa onde entretanto tinha chegado, tendo no entanto tempo para incendiar a localidade antes de retirar sobre Casal Novo.

Nos dias 13 e 14 do mesmo mês houve combates em todo o caminho percorrido sendo que o combate tido por mais importante foi o que aconteceu na Fonte Coberta na noite do dia 14 e em que o próprio Massena esteve em riscos de ser feito prisioneiro com seu Estado-Maior.

Depois deste combate Massena tentou de todas as formas pôr-se a salvo o mais depressa possível. Durante a fuga e para dificultar o caminho ao exército no seu encalço incendiou a vila de Miranda do Corvo onde estava grande parte do seu próprio exército. Mandou apressar a fuga e ele mesmo seguido de escolta foi reconhecer a passagem sobre o rio Alva, que encontrou cortado, mas onde activamente fez improvisar uma ponte. Na fuga, Massena ordenou aos seus subordinados, entre eles Michel Ney, que ainda nessa mesma noite fizessem a travessia do rio Ceira inutilizando a artilharia avariada e outros carros de combate que causassem o retardamento da marcha. Ney no entanto desobedeceu à ordem recebida e e em vez de fazer como lhe foi ordenado, deixou ficar na margem esquerda 10 ou 12 batalhões, uma brigada de cavalaria e algumas peças de artilharia.


Carta militar da época

Durante a noite, as forças aliadas, tornearam os inimigos que entretanto de tinham estabelecido na Lousã. Procederam ao reconhecimento das posições e quando a manhã começou a raiar dispararam alguns tiros.

Não estando à espera a tropa francesa ficou alarmada e rompeu fogo de forma desordenada e assim continuou por toda a manhã, facto para o qual terá contribuído o uma nevoeiro cerrado que desceu e que veio estabelecer a confusão.

Além destes primeiros fogos as tropas aliadas atravessaram também o rio a montante das tropas francesas provocando mais confusão entre os sitiados, que ficaram com dificuldade em saberem de donde eram agredidos.

As tropas franceses da margem esquerda tentaram juntar-se ao resto do exército na margem direita do rio, mas aperceberam-se que era impossível fazer passar rapidamente pela estreita ponte uma grande massa de tropa e cavalos. Com a presa e a aflição alguns regimentos começaram a passar o rio a vau, um pouco acima da ponte existente.

No entanto os franceses não tinham reconhecido o rio, que devido às abundantes e constantes chuvas desse ano ia muito engrossado. Com a precipitação e confusão muitos homens e cavalos, morreram afogados nas águas do rio, acrescendo para cúmulo que se desviaram para o lado onde estavam os aliados que haviam entretanto recuado para procurar o melhor vau, acabando assim por ocupar o lugar destes, acabando assim por serem tomados como inimigos pelos próprios franceses da outra margem que romperam em tiroteio.

Gerada a confusão as tropas francesas da margem esquerda por sua vez julgaram ser agredidos pelos aliados que tivessem mudado de posição. Este conflito durou quase toda a tarde e só quando uma força se resolveu a atacar os que tinha diante, à baioneta é que reconheceram o terrível engano.

Muitos historiadores discordam sobre o número de perdas havidas no combate de Foz de Arouce pois os próprios que nele entraram mais consideram aquela acção como um episódio da longa batalha, que se desenvolveu de 11 a 18 de Março e que teve por campo todo o espaço entre Pombal e a Ponte de Mucela e portanto não lhe assinalaram princípio nem fim que bem o defina e faça jogar os seus testemunhos com as partes oficiais. Além disto o desconhecimento que então havia da topografia desta região, induziu-os a afirmações inverosímeis e aos graves erros nas operações que talvez por decoro encobriram.

O que porém é positivo é que, se o número de vidas perdidas não foi muito considerável, pelo menos o efeito moral para os franceses foi extraordinário. O regimento n.º 39, um dos que passou o rio a vau perdeu o seu comandante e a sua bandeira.

Na Junta de Freguesia de Foz de Arouce disseram-me que o estandarte do regimento francês que foi derrotado em Foz de Arouce foi recuperado por portugueses, contudo foi vendido ao Exército Inglês, estando exposto num importante museu londrino, valendo actualmente muito dinheiro.

Dos despojos do combate foram recolhidas poucas peças encontrando-se alguns capacetes e barretes na posse da autarquia lousanense. Provavelmente mais haverá na posse de particulares em Foz de Arouce.

Do combate e da memória restam-nos dois marcos deste, um junto à ponte e outro no interior duma Quinta em Foz de Arouce.

A ponte sobre o Rio Ceira, em Foz de Arouce foi destruída nesta incursão francesa.

Em Semide, apurei que durante a terceira invasão francesa, as freiras do Convento de Semide descobriram uma fórmula para cozinhar e conservar a carne de cabra e carneiro, aproveitando o vinho que lhes era entregue pelos rendeiros, o louro que tinham na sua quinta, bem como os alhos e demais ingredientes. Surge, assim, a chanfana que era religiosamente guardada ao longo do ano nas caves frescas do mosteiro. A carne assada no vinho mantinha-se no molho gorduroso solidificado, durante largos meses, evitando que os soldados franceses roubassem as cabras e as ovelhas da região. Finalmente, há quem diga que a receita da chanfana nada tem a ver com o Mosteiro de Semide, mas apenas com as invasões francesas. Diz-se, então, que, quando as tropas francesas andaram pela região da Lousã e de Miranda do Corvo, a população envenenou as águas para matar os franceses. Mas era preciso cozinhar a carne habitualmente consumida (de cabra e de carneiro) e, como a água estava envenenada, utilizou-se o vinho da região. A chanfana é um prato típico, não só no concelho de Miranda do Corvo como de praticamente toda a região centro.


Marco que assinala o Combate de Foz de Arouce (3ª Invasão Francesa), travado no dia 11 de Março de 1811, quantas vezes passamos aqui de carro e não ligamos?


Esta ponte tem muitas histórias, se ela falasse, tinha muito que contar, aqui se travou o Combate de Foz de Arouce, há 200 anos.

Ditulis Oleh : Unknown // 3:00 PM
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